Em vez de evitar que nossos filhos passem por situações desagradáveis podemos ensiná-los a encará-las e sair delas fortalecidos
Minha filha tem passado por um período difícil na vida dela: a chegada do irmão. Como primogênita que sou, não tenho dúvidas do quanto a experiência é boa. Um irmão mais novo não é só alguém para fazer companhia, alguém para brincar, para aprender a dividir ou para ser solidário com os problemas dos pais. Um irmão é também uma oportunidade de sofrer sem machucar. É a oportunidade de aprender a sofrer, algo essencial para encarar a vida adulta, a meu ver. É muito, muito sofrido perder o posto de primeiro, deixar de ser o centro das atenções da casa, perceber tão cedo que a mãe não é só sua, que o colo nem sempre está vago, que os olhares não são todos seus. O saldo disso tudo, no entanto, exceto em casos raros, não é ruim, é só amadurecimento. O problema é que ela não sabe de nada disso ainda.
A experiência tem feito com que eu reflita sobre como encaramos o sofrimento dos filhos. Só queremos que nossos rebentos sejam felizes e, então, quase sempre tentamos evitar o sofrimento. Vira e mexe, me pego pensando no que fazer para por um fim às malcriações da minha filha, às “birras”, às crises de choro, de raiva e de violência que ela tem por ciúme. Ou seja, quebro a cabeça em busca de uma forma de minimizar o sofrimento dela quando, na verdade, deveria só ajuda-la a encarar essa fase com a certeza de que é só um período, vai passar e ela vai sair mais forte dessa. Agimos assim em uma série de situações. Na fase de desmame, para tirar a chupeta, na adaptação na escolinha, quando caem.
Quanta bobagem! Deveríamos aproveitar tais oportunidades para ensinar nossos filhos a sofrer com segurança, sem se arrebentar. Sofrendo assim, miudinho, esses adquirem estofo para encarar os grandes desafios da vida.
FOTO: SXU.HU