Todo cuidado é pouco. Gestantes choram, têm rompantes de raiva ou ficam neuróticas quando escutam besteiras. Saiba o que não se deve falar a elas
Gravidez não é doença. Mas trata-se de um estado especial da mulher. Não é regra, mas a maioria fica sensível. Se, por um lado, cabe às pançudas fazer um treino de tampar os ouvidos para o besteirol que se diz por aí, por outro, as pessoas podiam exercitar o simancol” a cada vez que cruzam com uma gestante pela frente. Nem sempre é isso que acontece, porém. Por isso, reuni bobagens que ouvi durante as duas gestações às queixas de sete amigas que já tiveram filhos e fiz a lista abaixo com frases que não devem ser ditas a uma grávida – isso se você não quiser desagradar nem correr o risco de ouvir uma resposta bem malcriada ou ainda vê-la chorar um Rio Amazonas inteiro na sua frente.
Para quem está no início da gravidez
“Xiii… já está preparada para ficar grande?”
(Primeiro que nem toda grávida engorda feito uma vaca. Segundo que ela não precisa de terrorismo, ok?)
“Puxa, mas você já está contando sobre a gravidez para os outros? Acho melhor esperar um pouco, vai que não vinga…”
(Quase toda grávida tem medo de abortar. No início da gestação, então, essa é uma assombração constante. Você não precisa lembra-la disso.)
Para aquelas que estão no fim da gravidez
“E, aí, não vai nascer? Já está na hora, né?
“Pô, não nasceu ainda!?”
(Ela provavelmente pensa como você. E, por isso mesmo, está ansiosíssima. Não precisa piorar as coisas, ok?)
“Hum… estou achando que vai nascer dia tal porque é quando vira a lua.”
(Ok, você pode ser um expert na relação entre os astros e a gravidez, mas, ao menos que a pançuda te consulte, fique quieto. Ela certamente já está bem ansiosa esperando o início do trabalho de parto.)
“Você está bem inchada, né?”
(Boa parte das grávidas incha, sobretudo no fim da gravidez. E isso incomoda muito. Tanto pela aparência como por causa do desconforto causado pelo acúmulo de líquido. Quem está nessa situação quer tudo menos que alguém repare nos edemas. Melhor disfarçar.)
Para qualquer uma
“Quanto você já engordou?”
(Já ouviu falar que é falta de educação perguntar sobre o peso dos outros? Então, isso vale para grávidas também, combinado?)
“Já está para nascer?”
(A pergunta causa, no mínimo, ansiedade. Além do mais, tamanhos de barriga variam muito e, se a gravidez estiver muito antes do fim, a moça certamente achará que você a esta chamando de gorda)
“Nossa, você está só de XX meses? Parece mais/ menos.”
(Novamente, ela vai achar que você a está chamando de gorda ou, ao contrário, que tem algo de errado com o bebê porque a barriga é pequena.)
“Olha lá com esse copo, ein!? Você não sabe que grávida não pode beber?”
(Primeiro que não é verdade que grávida não pode beber. Isso varia de mulher para mulher, de médico para médico. O que não se pode, claro, é encher a cara! Além disso, qualquer atitude que a mulher tome é uma decisão dela e, no máximo, do marido, que é pai da criança também. Ninguém mais precisa se meter.)
“Nossa, mas esse nome não é muito exótico?”
“Puxa, de onde você tirou esse nome?”
“Hum… tem certeza? Será que ele/ela vai gostar de ser chamado/a assim?”
(A escolha do nome cabe aos pais e a ninguém mais. Ao menos que eles peçam sua opinião, fique quieto se não gostar do que o casal anuncia. Mesmo – aliás, principalmente – se você for avô ou avó.)
“Você sabe que não pode comer peixe cru, né?”
(O que uma grávida pode ou não comer varia de acordo com a orientação médica – peixe cru, por exemplo, só tem risco se estiver estragado. Simples assim. O melhor é não meter o bedelho nisso.)
“Você tem certeza de que vai tentar parto normal/natural? Olha lá, ein!? Não estamos mais nos tempos das cavernas”.
(Eu nem vou entrar aqui no blábláblá de quanto o parto normal ou o natural podem ser mais vantajosos para a mãe e o bebê. A questão é que a escolha do modelo de parto é da mulher. Além disso, por mais que ela opte por isso ou aquilo, tudo pode mudar na hora H e você não tem nada a ver com isso.)
“Cesárea!? Não faça isso, olha, deixa eu te contar uma coisa…” e, aí, vem todo um romance sobre os médicos que enganam as pacientes, a indústria do parto e um sem-fim de causos terríveis de violência obstétrica.
(Está certo. Eu também gostaria que toda mulher, antes de decidir pela cesárea, soubesse tudo o que está envolvido nessa decisão e que, sim, ela pode estar sendo vítima de um esquema terrível. O grande problema é que seu papo pode ser uma invasão à intimidade da grávida. Por isso, muita calma nessa hora. Antes de começar o assunto, certifique-se de que vocês têm intimidade, de que ela está disposta a ouvir algo novo e não vá direto para o discurso pronto ou muito menos para o julgamento. Novamente: essa é uma decisão que cabe a ela e você não é a salvadora da pátria!)
“Você está grávida!? Parabéns! Nossa, eu soube de uma história tão terrível esses dias…” E lá vem uma narrativa rica, cheia de detalhes de horror sobre alguém que perdeu uma bebê ou que deu à luz a uma criança com sérios problemas.
(Peloamordedeus! Se ainda não caiu a sua ficha de que grávida não precisa ouvir história de terror ao menos que tenha gosto por essas coisas e resolva assistir um filme do gênero por livre e espontânea vontade, chegou a hora, meu caro.)
“Que barriga linda! Deixa eu passar a mão?”, e já vai tocando a pança sem que a moça possa responder.
(Com raras exceções, grávida alguma gosta que estranhos ou gente com quem ela não tem intimidade mexa na barriga dela. Por isso, ou nem se atreva, ou, pelo menos, dê tempo e liberdade para que ela negue seu pedido.)
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